Por muito tempo achei ser apenas um blefe, acreditei de verdade que tudo isso não passasse de um faz de conta, uma ilusão, uma miragem, algo fictício, existente somente em minha memória. Mas não, essa dádiva se criou, tomou forma e em uma simples noite chuvosa, comum, sem grandes novidades, transbordou para fora da minha vida, o inacreditável.
Sempre quis ultrapassar as barreiras, deixar para trás qualquer limite, qualquer fronteira, me perder em meio ao horizonte, e sumir, aos poucos, gradativamente sem pressa alguma. O amanhã ainda está muito distante e se ele não existir ficarei sabendo logo quando amanhecer, pois meus olhos vidrados e vermelhos transparecem todo o meu medo de um dia me perder, em um caminho de ida sem volta nas curvas dessa vida.
Sou como um velejador sem vela, mas sou também a tempestade que arrasa todo o pensar de quem ainda não sabe a verdadeira forma do querer, pois ainda é indecisa criança que precisa crescer e conhecer aquilo que não domina.
O tempo passa, continuo vivo, mas sem motivo, tenho em minha mente que você não irá voltar, deixo a porta aberta, o vento entra sem pedir permissão, as folhas caídas voam em todas as direções, o frio toma conta do lugar, não tenho fome, não tenho sono, sozinho, apenas espero pelo dia que ainda está por nascer.
Sua presença é como um jogo de quebra-cabeças, vivo dessa forma, me prendo a você, me completo sempre quando você está aqui, faz com que eu me comporte novamente como um adolescente, é uma viajem no tempo, o som do velho assoalho de madeira, ringindo sempre quando meus pés tocam o chão lembram minha infância, passado digno de quem está muito distante do ponto de partida e próximo do ponto de chegada, sentindo o arrepio percorrer o meu corpo, plena e complexa forma de viver, na exatidão de todos os teus atos me refiz, como um ser inacabado, mas com tamanha vontade de glorificar o meu desejo vital.
Erros e acertos, vidas incertas, sons diversos, palavras ao vento, o toque do sino anuncia que mais um dia vem por aí, a igreja do vilarejo ainda está vazia, mas se prepara para receber seus fiéis, movimentos que alteram minha rotina monótona, desde que me mudei para essa janela, lugar de observar toda e qualquer alma que esteja perdida assim como a minha. A perplexidade dos fatos me faz ver tudo de outra forma, tenho a marca do cansaço em meu rosto, minhas mãos suam frio, não sinto minhas pernas, já não vejo o seu olhar.
Corro o risco de nunca mais ser feliz, não com você, não com minha melhor forma de amor, mas sei que o tempo ainda está a nosso favor e tudo conspira em direção ao sol, gigante astro que chega trazendo a alegria de acreditar novamente naquilo que realmente me faz viver, longe da tua incerteza que me mata dia-a-dia, sem que eu possa ter direito a um último suspiro, mesmo que inconstante, capaz de me trazer de volta a vida.
Janelas da alma, da vida, dos tempos, das horas, que passam as vidas, as pessoas, as vidas das pessoas sem cortes, sem edições, sem ensaios. Erros e acertos são inevitáveis...o último suspiro à cada cena sufocante, o medo de viver se dissipa sem dor!
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